Projeto consegue bom desenvolvimento de árvores madeireiras no Ceará

27 de março de 2013 - 14:45

Representantes do Arranjo Produtivo Local de móveis do município de Marco (CE) ficaram surpresos com o porte alcançado por algumas árvores de espécies madeireiras cultivadas no perímetro irrigado do Baixo Acaraú. Eles conheceram os resultados preliminares do projeto de teste e seleção de espécies arbóreas para a indústria do polo moveleiro de Marco, desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical e pela Embrapa Florestas, unidades descentralizadas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
 
O estudo está avaliando a produção de espécies de árvores nativas e exóticas no distrito de irrigação do Baixo Acaraú para suprir a demanda madeireira do Arranjo Produtivo Local de móveis. O município de Marco é o oitavo produtor do setor no País. Entre as espécies testadas, algumas vem apresentando bom desenvolvimento, como Paricá, Chichá do Pará, Acacia mangium, Casuarina, Sobrasil, Pau d’arco roxo, Marupá e alguns clones de Eucalipto. As espécies são avaliadas com e sem irrigação.
 
Clones de eucaliptos atingiram, 18 meses após o plantio, altura variando entre 12m a 17m. Enquanto a  Acacia mangium, que é exótica, e as nativas Paricá, Sobrasil e Marupá atingiram, 24 meses após o plantio das mudas, alturas médias de 10,41m, 13,16 m, 7,01m e 6,68m, respectivamente. “Os próprios empresários não acreditavam que pudesse ter floresta no Ceará. Com o estudo da Embrapa, vemos hoje que é possível, disse o presidente da Fabricantes Associados de Marco (FAMA)”, Leonardo Aguiar. A FAMA é uma associação que reúne 20 das 35 empresas moveleiras existentes na região. Conforme Leonardo Aguiar, o setor, que gera 1500 empregos diretos, depende exclusivamente da matéria-prima produzida em outros estados como o Pará, Rio Grande do Sul e Bahia.
 
“Acredito que ainda vou ver Marco produzindo compensado”, disse Marcos Valério, que comercializa para as indústrias, madeira proveniente de outras regiões do País. Ele disse estar otimista com a experiência. “É uma coisa para dez anos, mas estou animado. O problema é dar o pontapé inicial, conseguir terra e começar, aos poucos, o investimento”, disse.
 
Para o gerente de análise de mercado do Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), José Sérgio Baima Magalhães, as respostas da pesquisa são surpreendentes. “A impressão é ótima porque, mesmo depois de um período de seca como estamos vivendo, vemos árvores grandes e bem desenvolvidas”, disse. Sérgio Baima considera o estudo um marco na história do agronegócio no Ceará, por ser a primeira experiência de avaliação para a produção de madeira no estado. “A Adece vê essa pesquisa como uma iniciativa importantíssima para a região. Talvez seja a experiência mais importante que a Adece esteja apoiando no momento”, afirmou.
 
A pesquisa 
 
O estudo objetiva analisar espécies de árvores com maior produtividade e melhor qualidade da matéria-prima. O desafio dos pesquisadores é selecionar espécies viáveis às condições da região: solo arenoso, clima quente e ventos fortes, que favorecem o tombamento das árvores. No total, a pesquisa está avaliando seis híbridos de eucalipto e 39 espécies de árvores, entre não tradicionais, exóticas e amazônicas. Na segunda fase do projeto, serão selecionadas, para cada grupo de plantas analisado, duas espécies que tiveram melhor desempenho na região.
 
A coordenadora do projeto, pesquisadora Diva Correia, diz que a grande preocupação é selecionar materiais que possam ser cultivados com segurança na região. Ela afirma que a metodologia utilizada está permitindo que em dois anos de projeto, já se instale o plantio pré-comercial das espécies com melhor adaptação à região. Nessa segunda fase, serão necessários, ainda, testes de validação de manejo, qualidade da madeira e beneficiamento.
 
Segundo a pesquisadora, se a madeira não for de qualidade, podem surgir outras possibilidades de utilização, como uso para produção de energia, para plantios em matas ciliares e de conservação. Diva Correia lembra que este tipo de estudo é importante no Brasil, pelas características do País. “Somos a segunda nação com áreas ocupadas com florestas, só perdendo para a Rússia”, disse.
 
O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Vitor Hugo de Oliveira, lembra que o trabalho surgiu a partir de uma demanda do Sindicato das Indústrias do Mobiliário do Estado do Ceará (Sindmóveis) apresentada à Embrapa em 2008 e que, apesar dos bons resultados obtidos, o projeto ainda está no meio do caminho. “O aspecto florestal no Ceará é muito novo para todos, por isso, envolvemos pesquisadores de outros estados e de várias áreas. Apesar de curto tempo, é uma mostra do potencial fantástico que a região tem”, afirmou.
 
A iniciativa conta com recursos da Embrapa, do Banco do Nordeste (BNB) e da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). São, ainda, parceiros o Sindicato das Indústrias do Mobiliário do Estado do Ceará (Sindmóveis), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), o Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), organismo do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Sistema FIEC), e a Fabricantes Associados de Marco (FAMA).
 
Verônica Freire (MTB 01225JP)
Jornalista da Embrapa Agroindústria Tropical
(85) 33917116