Presidente da Adece participou da Abertura do I Workshop sobre Inovação e Empreendedorismo

5 de julho de 2013 - 19:14

A Unidade de Pesquisa, Transferência Biotecnológica e Inovação (UPTBI) e a Incubadora de Empresas da Universidade Estadual do Ceará (IncubaUece) realizou, hoje de manhã(5), o I Workshop sobre Inovação e Empreendedorismo em seu auditório. O evento reuniu cerca de 60 participantes dos segmentos público e empresarial do Ceará. O presidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Roberto Smith, fez a conferência de abertura.

Confira, na íntegra, o texto apresentado pelo presidente no Seminário:

 Por Roberto Smith (*)

1.Ao ser convidado para a abertura do I Workshop sobre Inovação e Empreendedorismo algumas questões que me foram colocadas, enquanto gestor da ADECE, agência de desenvolvimento que cuida da execução do programa de desenvolvimento do Estado, definido a partir da sua concepção pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento – CEDE. As perguntas foram as seguintes:

    1. a)O que o Ceará está fazendo do ponto de vista da inovação tecnológica para o desenvolvimento?
    2. b)Como o Estado vê a inovação tecnológica para alcançar o desenvolvimento?
    3. c)Como o Estado interpreta a relação academia e empreendedorismo para o desenvolvimento?

 

  1. 2.Creio que o que ocorre no Ceará em termos de inovação tecnológica encontra-se correlacionado com a debilidade existente a nível nacional, sendo, no entanto, mais acentuada. Isso porque em escala nacional existem certas áreas e setores que se destacam, o mesmo sendo difícil de ser assinalado no Ceará e mesmo no Nordeste. Sob um diferencial de renda per capita apreciável existe: uma acentuada diferença entre a quantidade de anos de estudo de sua população em quaisquer extratos; estruturas produtivas arcaicas que ainda perduram com maior intensidade; perdas enormes de população através de processos emigratórios; e grande assimetria social e de oportunidades de mobilidade social.

 

(*) Presidente da Agencia de Desenvolvimento do Estado do Ceará

 

3.Nesse sentido a agenda prioritária para o Nordeste e para o Ceará encontra-se ainda, e de forma preponderante, voltada para a geração de emprego, diminuição da exclusão social, melhoria salarial, que nem sempre acompanha aumento de produtividade, processos estes que tem caracterizado as políticas públicas mais recentes, com importantes efeitos sociais. Paripassutem havido importantes avanços em direção à universalização da política educacional em todos os níveis com resultados importantes no que tange à efetividade e qualidade do ensino, com destaque para o Ceará. Vide o reconhecimento em âmbito nacional do êxito do Programa de Alfabetização na Idade Certa – PAIC e o processo em marcha de dotação de ensino técnico profissionalizante, amplamente distribuído em todo o Estado. O ensino universitário também tem evidenciado um avanço em termos de sua universalização com expressivo aumento de oferta, sua interiorização, e acesso a financiamento.

 

  1. 4.Como reflexo dessa conjuntura recente a ótica de desenvolvimento prevalecente tem sido a de geração de empregos. Isso está refletido nos programas de incentivos fiscais e de infraestrutura vinculados ao Fundo de Desenvolvimento Industrial do Governo Estadual, em meio à guerra fiscal, e ausência de política de desenvolvimento regional. Ao longo dos anos pode-se afirmar que o FDI tem apresentado um bom desempenho dentro daquilo a que se propõe. Resulta em linhas gerais na atração industrial do tipo mão de obra intensiva, de setores que se situam em mercados de natureza mais competitiva, que se expandem através de implantação configurada por multiplantas e que visam pouca concentração de mão de obra como controle para conter organização sindical e pressões salariais. Disso resulta sermos hoje o maior produtor de pares de sapato do Brasil, sem que aqui se situem os centros de design, desenvolvimento de novos materiais e esforços mercadológicos. Algumas poucas indústrias e setores que se destacam,no panorama estadual, o fazem em virtude de terem
  2. obtido avanços gerenciais e boa absorção de processos importados vinculados.

 

  1. 5.As vantagens naturais que tem sido reveladas mais recentemente no campo das energias renováveis ainda têm acarretado discreta endogeneização de avanços inovativos mostrando uma trilha retardatária, porém promissora,se bem aproveitada. As desvantagens naturais de um estado situado no semi-árido de solos cristalinos, onde o fenômeno da seca tem sido reiteradamente presente tem ensejado formas tradicionais de enfrentamento, desde a política de açudagem e pouca aptidão para a ampliação efetiva dos processos de irrigação. Apesar dos potenciais que permanecem escondidos no seu agro, e na preponderância da atividade pecuária, pouco tem sido deslocado de suas tendências por avanços puxados pela inovação.

 

  1. 6.Quero com isso frisar que se os esforços de desenvolvimento tecnológicos e de inovação no Brasil são recentes – datam da década de 90, no Nordeste e no Ceará são mais recentes e ainda são constituídos por ações isoladas, sem evidências sistêmicas.

E a referência sistêmica deve assinalar que a inovação, o progresso tecnológico, devem necessariamente ter um referencial de validação social. Esses esforços, mais recentes, apenas começam a apresentar indícios de cooperação entre instituições científico-tecnológicas, empresas e governo, e situam-se ainda distantes da concepção de autocoordenação espelhadas em redes cujas interações organizam as relações entre a pesquisa científico-tecnológica, o mercado e a sociedade e vem delineando, a partir das experiências, formas de boa governança. Há aqui subjacente todo um processo gradual em marcha de mudança cultural, induzido em grande parte pela universidade e pelo governo, onde os processos de inovação se instalam e se tornam endógenos como princípio público e privado de pesquisa e prática.

7.Procuro abordar primeiramente o foco da segunda pergunta que me foi dirigida: como o Estado vê a inovação tecnológica para alcançar o desenvolvimento? Entendo que o Estado, isto é o poder público, atua sobcertos pressupostos que evidenciam que não é possível queimar etapas, avançando sobre a educação e a capacitação, ainda de forma tradicional e sem criar aptidões diretamente correlacionadas a novas formas de produção e produtos. Isso porque as agendas de inovação ainda não pressionam a formação de novas aptidões. A inovação e o desenvolvimento tecnológico encontram-se presentes aindade forma esparsa e pouco integrados e coordenados.Tem sido ainda insuficientes para gerar ondas de capacitação que interfiram e modifiquem práticas produtivas tradicionais e improdutivas como por exemplo ocorre na cajucultura.

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  2. 8.Isso evidencia a ausência(vazio) no âmbito do Estado (governo), de uma estratégia científico-tecnológica acordada entre os principais agentes de um sistema de inovação.
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  2. 9.Voltando agora para a primeira pergunta que indaga: o que o Ceará está fazendo do ponto de vista da inovação tecnológica para o desenvolvimento? Recentemente nas tratativas do programa P4R (Program for Results)do Banco Mundial, era preconizada a liberação de recursos de financiamento tendo por base as ações baseadas num planejamento de estratégias de inovação presentes e previstos para o Estado, com destaque para as relações entre a universidade e a iniciativa privada. Disso resultaria uma primeira abordagem documentada de desenvolvimento inteiramente baseada em esforços de inovação e suas ações correlatas. O que era, para nós, de certa forma bastante instigante. Teria a virtude, por um lado de expor as debilidades e por outro lado valorizar e apoiar processos existentes. No entanto o P4R inexplicavelmente se afastou do eixo de inovação, ainda que haja alguma tentativa de manter essa diretriz, mas despojada da força do foco que passaria a exigir respostas, acompanhamento e avaliação. Foi de meu ponto de vista uma oportunidade perdida.
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  2. 10.Entre as formas isoladas de esforços de inovação tecnológica situam-se alguns espaços de inovação por exemplo, como o PADETEC, o INCUBAUECE dos organizadores desse workshop, o RENORBIO, o Polo Tecnológico da Saúde no Eusébio apoiado pelo Instituo Manguinhos e Fiocruz, os processos em estruturação de parques tecnológicos em energias renováveis onde a UECE também se encontra presente, e também em biotecnologia sustentável que busca a substituição de bases sintéticas por bases naturais, as pesquisas da Embrapa, onde se apoiao desenvolvimento de espécies arbóreas do semi-árido que possam se constituir em matéria-prima para a indústria moveleira, o convênio em marcha entre o Governo do Ceará (ADECE) e Israel para estruturar uma “demonstrationfarm” em Quixeramobim, e alguns processos de inovação esparsos em metrologia, certificação, testes etc.

 

  1. 11.A existência de um Fundo de Inovação Tecnológica, cujos recursos não são aplicados, assim como o nosso FIES evidenciam dificuldades nesse equacionamento de uma cultura de desenvolvimento (entenda-se recursos) baseada em inovação sistemática.Se em termos estratégicos ainda não se pensa e nem se atua focado em inovação tecnológica, em termos táticos deve-se observar que muitos mecanismos criados são de natureza fragmentária e nem sempre oferecem garantias de continuidade.Essa condição de possibilidade de interrupções decorrentes de mudanças de gestão principalmente pública, constituemsempre um fator de risco, mormente em atividades que envolvem incertezas de efetividade de resultados que possam chegar aos mercados, de forma a gerar retornos. Esse aspecto tem o condão de poder vir a afetar mais fortemente iniciativas empresariais de pequeno porte e problemas de financiamento que se somam aos já existentes.
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  3. 12.Por fim quando se indaga: como o Estado interpreta a relação academia e empreendedorismo para o desenvolvimento?Entendo que não se trata de uma interpretação e sim de uma constatação: ainda a relação entre academia e empresa/empreendedor encontra-se mal instalada. Enquadra-se nas dificuldades que esbarram numa visão estratégica e cultural que implicam ainda na debilidade do foco em inovação, seja de processo, seja de mudança que permeiam as relações. Acreditamos que estamos num processo evolutivo que aos poucos vai derrubando certos isolacionismos decorrentes de personalismos em beneficio de uma cultura de inovação em gestão e autocoordenação em redes. Há muita movimentação e conscientização a esse respeito. Acredito que essa é a forma mais estrutural de emparelhamento com o desenvolvimento científico com capacidade de transformação gradual do tradicionalismo arcaico que afeta muitas comunidades e formas de produção.